domingo, 1 de setembro de 2013

Coisas que nunca foram nossas

Adormeci. E já não era mais noite.
Os pássaros cantavam nossa realidade.
O voz do vento naquelas folhas já não soavam tão bonitas.
Pudera a vida deixar três anos pra mais, ir embora como uma brisa repentina?
Abriu-se um buraco na parede da historia. Deixando um espaço vago entre o meio e o fim.
Achamos que seria eterno. Mas como nada é.
Simplesmente se foi. 
E não foi como verdadeiro.

Pois verdadeiro as vezes sabe se fingir de eternidade.  

terça-feira, 20 de agosto de 2013

Poema de quem não vê

Não faltam sóis no céu,
mas olhos
e o corpo
abastecido de fome e fúria
perpetua esta geografia
da solidão.

As falanges das árvores,
os poros da terra,
não faltam flores no mar
mas braços pulsando
por entre os beijos
das multidões.

A solidão das multidões,
não faltam partos e prantos
de morte e ressurreição
mas
procurar
por entre as palavras
e os silêncios
a música que os une.

segunda-feira, 13 de maio de 2013


Decidi
Por entre a alegria geral dos prédios
Por entre a percepção geral de que tudo
Está bem,
Ficar sozinha,
Correr para casa beber
Um café no meio dos meus lençóis,
Esperar
Uma guerra nuclear debaixo dos meus
Lençóis,
Esconder-me até que tudo passe,
Esconder-me até ser
Feliz.


retrato de uma praia que nunca verei


Prostrei-me sem cor

Tolhida de um frio de morte
Que me descia corpo a baixo
Na mais séria impavidez
Perante o retrato da praia das luzes

A subversão do areal
À noite
Milhares de infâncias rochosas,
Velhices rochosas,
Oblívios do vento.

Como eu,

Que te cubro as pernas
Fechando os olhos da memória

Que te aperto os seios
Fechando os olhos da memória

Que me esqueço de ti
Fechando os olhos à memória.

Aqui onde os meus pés
Atingem o solo como espectros impossíveis
Desaparecendo no levadiço
Que me engole o corpo de pedra,
Da velhice óssea,
Da velhice cárnea,
Evocações do rancor das trevas.

Eu duas pinturas,
Um piano abençoado
Uma única nota desafinada
Uma arte em combate
Contra si própria
Com os pés presos na areia,
Os olhos cegos de falta de luz
A noite fria
E o teu corpo a fazer-me falta
Em todos
Os movimentos.

Eu açambarcando
Um cobertor

A ressaca
A tomar consciência da casa e não da areia
Nem da praia
Nem da noite

Eu um retrato envelhecido
de um corpo humildemente vencido
na doçura de um tempo humanamente parado.

terça-feira, 12 de março de 2013

Já pensei tantas vezes em deixar o acalanto de seus olhos traiçoeiros. Sinto-me como se eu estivesse num abismo onde a única coisa que me impede de cair é uma flor na qual eu me seguro. Esta flor é minha sanidade.

segunda-feira, 8 de outubro de 2012



conto-te um segredo, conta-me os cabelos

estava deitada na cama a fazer contas aos cabelos que vou perdendo como que a envelhecer nas minhas mãos. estava
deitada vivendo dentro de um passado tão mais velho que eu e mesmo assim com tão boa aparência. e eu invejo o
mundo exterior a mim: tudo tão mais calmo que esta pasmaceira interior que me come por inteira. invejo-o pela razão
de não ser meu e de não me importar para além da inveja que tenho por ele.