quarta-feira, 10 de agosto de 2011

De quando eu sei que mereço tudo


Não mereço menos que tudo. Foda-se se mereço menos que tudo. Mesmo que me custe cair na cama e adormecer,
com tudo o que paira como a brutalidade da castração no poço fundo do meu pensamento. Não mereço menos
que uma tarde perfeita, com o amor ao meu lado, sou especial, com o amor ao meu lado num jardim londrino
ao fim da tarde, com uma sandes de caos, quente, morto, sanguinário, e um café a acompanhar o sol a cair
sem o vermos, na neblina cega de Abril. Mesmo que eu não me esqueça de anos e anos. Não mereço menos que
ser uma menina, a menina que sou, eternamente, e chorar sem medo que, ou chorar com medo que, chorar
com o amor ao meu lado, com um colo caótico, quente, vivo, cheio de vida e uma brisa suave, no fim de
uma tarde de Abril, a tocar-me a face e a dizer
- Vai ficar tudo bem, querida
Não mereço menos que tudo e não preciso que me lembrem disso. Eu sou um tipo especial, bem educada, bonita.
Não mereço menos que tudo e vejo nomes subir subir subir subir na minha direção e a diluírem-se no
passado como imagens perdidas na memória de um cego. Cego nesta neblina britânica caótica de um qualquer Abril do futuro mas
- Vai ficar tudo bem, querida, prometo