segunda-feira, 13 de maio de 2013


Decidi
Por entre a alegria geral dos prédios
Por entre a percepção geral de que tudo
Está bem,
Ficar sozinha,
Correr para casa beber
Um café no meio dos meus lençóis,
Esperar
Uma guerra nuclear debaixo dos meus
Lençóis,
Esconder-me até que tudo passe,
Esconder-me até ser
Feliz.


retrato de uma praia que nunca verei


Prostrei-me sem cor

Tolhida de um frio de morte
Que me descia corpo a baixo
Na mais séria impavidez
Perante o retrato da praia das luzes

A subversão do areal
À noite
Milhares de infâncias rochosas,
Velhices rochosas,
Oblívios do vento.

Como eu,

Que te cubro as pernas
Fechando os olhos da memória

Que te aperto os seios
Fechando os olhos da memória

Que me esqueço de ti
Fechando os olhos à memória.

Aqui onde os meus pés
Atingem o solo como espectros impossíveis
Desaparecendo no levadiço
Que me engole o corpo de pedra,
Da velhice óssea,
Da velhice cárnea,
Evocações do rancor das trevas.

Eu duas pinturas,
Um piano abençoado
Uma única nota desafinada
Uma arte em combate
Contra si própria
Com os pés presos na areia,
Os olhos cegos de falta de luz
A noite fria
E o teu corpo a fazer-me falta
Em todos
Os movimentos.

Eu açambarcando
Um cobertor

A ressaca
A tomar consciência da casa e não da areia
Nem da praia
Nem da noite

Eu um retrato envelhecido
de um corpo humildemente vencido
na doçura de um tempo humanamente parado.