terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Sinto-me velha desde que nasci...

... Não é que não signifiquemos nada a vida inteira. Porque significamos.
Mas e o significado que atribuímos às coisa? Não será isso que nos faz ser alguma coisa? E as pessoas não
são coisas. As pessoas existem e a morte é uma puta. Hoje sinto-me especialmente velha. Mas sinto-me velha desde que nasci, como se tivesse nascido ontem, porque me diverti e hoje estou cansada, porque vi toda a alegria do mundo, e a tristeza a tropeçar à minha frente e eu a tropeçar nela. Havemos de nos levantar os dois e seguir, cada um com as suas mazelas, os nossos caminhos, qual guerreiros depois de uma batalha, mas até lá vale a pena lembrar que nem a mais forte seca torna pequeno o caudal de amor que temos pelas pessoas. Infelizmente somos estupidos ao ponto de construir barragens ao longo do leito do nosso coração e por estupidez esquecemos que somos recém nascidos toda a vida, que nascemos com uma deficiência congénita incompreensível à medicina, à psicologia, à bruxaria: a morte. E por mais horrível que seja a palavra, é essa deficiência que me faz sentir velha desde que nasci. Eu não tenho medo de morrer, é natural, necessário. Mas a morte é uma puta, e eu só acho que nunca vivemos o suficiente para lhe pagarmos o que ela merece. A tristeza vai continuar, meu amigo, em todos nós, porque é natural, é necessária. Estamos a pagar por ti, vivos, em pé, por ti, para irritar suavemente, cada vez mais a cada dia que passa, essa puta que é a morte. E acredita, enquanto nos sentirmos velhos, doentes, com dores, tristes e contentes, a morte perderá sempre. Por ti, meu amigo, por todas as pessoas que têm algum significado para nós, enquanto vivermos, a morte perderá sempre.